quinta-feira, 9 de junho de 2011

Tecnologia e Economia Solidária

Tecnologia e Economia Solidária



Por Sandra Rufino

ssrufino@yahoo.com.br

UFOP/PEGADAS-UFRN/NESOL-USP



Há coisas que se pode fazer

e outras que se deve fazer...

A sabedoria consiste em distinguir uma da outra.



Esse encarte foi desenvolvido para refletirmos e discutirmos a tecnologia. Não aquela tecnologia que de imediato nossa mente faz lembrar como computadores, informática, máquinas sofisticadas, robos, naves espaciais, um verdadeiro filme de ficção. Falaremos aqui daquela tecnologia do nosso dia a dia, que faz parte de nossa vida.

Mas muitos devem estar se perguntando: Por que falar sobre tecnologia? A tecnologia pode nos ajudar e facilitar nossas atividades individualmente, na familia e/ou no empreendimento. E da mesma forma que paramos para refletir sobre nosso modo de trabalho, nossas ações e articulações, nosso valores na Economia Solidária (ES), com a tecnologia não pode ser diferente.

Para termos condição de iniciar um debate sobre o assunto é preciso primeiro entender O que é? A palavra é originada do grego, significa estudo do ofício. Entedemos como ofício o uso das técnicas, das ferramentas, das máquinas etc. Podemos dizer também que são as idéias, conhecimentos e métodos, utilizados para construir alguma coisa.

A tecnologia compreende a descrição de um saber organizado (sistematizado) e a explicação das técnicas. Ela pode ser tanto um produto/artefato (algodão marron ou verde natural, uma cestaria de sisal, um tecido agroecologico, diesel vegetal, sabão, ferramentas para corte, fogão a lenha, etc), como pode ser uma técnica/método (uso de gotejamento para irrigação de plantas, como as sementes da amazonia são tingidas) e ainda poder ser um processo/metodologia (como a cadeia produtiva do algodão agroecologico se organiza e se estrutura, como as reuniões no chão de fábrica são organizadas). E tudo isso: produto, tecnica e processo, utilizados para resolver ou facilitar nossos problemas ou necessidades do cotidiano.

Quem pode fazê-la? A tecnologia pode ser feita por todos, a diferença é que ao longo do tempo esse tipo conhecimento foi ficando cada vez mais restrito. Mas isso nunca impediu que o(a) trabalhador(a) criasse coisas novas (uma receita nova de comida, uma adaptação em uma máquina para outra função, uma ferramenta que facilitasse sua vida...).

A tecnologia em seu estágio primário, a técnica, é tão antiga quanto a humanidade, sendo inventada, aperfeiçoada e transmitida de geração a geração. A tecnologia, em sua origem, era apenas a técnica criada ao acaso ou por experimentação (fogo, uso do sal nos alimentos). Foi aperfeiçoada, organizada e transmitida, passando a ter pessoas dedicadas a isso (mestres artesãos e aprendizes). Depois com criação de técnicas mais complexas e a sistematização desse conhecimento, passa a ser dedicada para a formação de técnicos (formados na universidade).

Nesse momento passa a se construir o chamado conhecimento cientifico e esse saber, se distanciou do saber popular. Um dos nossos desafios é (re)aproximar esses conhecimentos para podermos criar tecnologias que realmente são uteis para a sociedade.

O que é preciso? Muita criatividade. Precisamos aproveitar a liberdade que a Economia Solidária nos dá em nosso modo de trabalho para poder criar. Não é preciso saber como fazer de imediato e dominar conhecimentos complexos e difíceis, o importante é termos as idéias. E se não soubermos fazer, buscaremos parcerias que permitam a construção conjunta e coletiva da tecnologia pensada.

E se falamos de uma nova postura frente a tecnologia, que respeite os diferentes saberes, que valorize a vida e busque o desenvolvimento, então falamos de uma Tecnologia Social (TS). Segundo a Rede de Tecnologia Social a TS “compreende produtos, técnicas e/ou metodologias reaplicáveis, desenvolvidas na interação com a comunidade e que represente efetivas soluções de transformação social”.

A Tecnologia Social trabalha com o principio da construção do conhecimento de forma democrática e coletiva, e busca compartilhá-lo com outras comunidades com necessidades semelhantes. Para o fortalecimento da ES e para o desenvolvimento durável (politico, economico, social, ambiental e cultural), a tecnologia precisa ser vista de forma estratégica e pensada a longo prazo.

Podemos usufruir da tecnologia em nossa casa e trabalho pensando em nossas necessidades, e podemos também pensar na tecnologia social que busca permitir o acesso a tecnologia a todos.

Algumas questões para o debate: Que tecnologia queremos para nós? Quais são os impactos (positivos e negativos) das tecnologias que utilizamos hoje? Como podemos contribuir para novas tecnologias? Qual o papel da Unisol na tecnologia e na tecnologia social? Podemos potencializar nossas ações com centros tecnologicos da universidade, centros de pesquisa? Como fazer isso?

[1] Que vem da ciência: conhecimento considerado uma verdade geral – lei – que é pesquisado, estudado e testado através do método científico (maneira como se avalia e valida esse conhecimento para que seja uma verdade geral).

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